segunda-feira, 19 de maio de 2008

Porque Locale Digital?

O texto abaixo é um fragmento de minha dissertação, defendida em março de 2007 no curso de mestrado em Geografia da UFSM, com o título de: "Locale digital: (re) construindo no ciberespaço as identidades territoriais da migração brasileira". Com ele gostaria de explicitar a intenção do locale digital e sanar algumas dúvidas que vem sendo levantadas com relação ao blog. Espero que gostem, boa leitura...

Locale Digital, dinamizando a blogsfera, consolidando o ciberespaço

Gustavo Siqueira da Silva

Mestre em Geografia

A definição inglesa para a blogsfera apresenta uma distinção entre ela e os blogs. No entanto, discorda-se dessa distinção, pois, não se acredita que o blog é apenas texto. Concorda-se com definição de fenômeno social para blogsfera, mas não se pode reduzir ou suprimir o papel social do blog, pois, é nele, em seus comentários e links, como argumenta Cerezo (2006), que está a dinâmica da blogsfera, e é essa característica que permite definir o locale digital.

Partindo dessas premissas, pôde-se identificar quatro momentos que permitiram forjar tal termo. No primeiro, considerou-se o trabalho de Silva (2003a) o qual já mencionava o blog como lugar digital. O segundo teve como base a leitura de Santos (1996), em sua discussão acerca do global e do local. No terceiro, resgatou-se na leitura de Giddens (2003), o qual substituiu o local por locale, por acreditar ser o segundo termo mais adequado e, por último, ou seja, o quarto momento foi organizado reportando-se a definação de Batty (1997) do ciberlugar.

O primeiro momento, é aquele em que a definição aparece mais “solta”. Isso ocorre em Silva (2003a), quando o autor se utilizou dos blogs para identificar as identidades de gênero. Dessa forma, esboçou-se a definição desses por serem o “lugar digital” no ciberespaço. Silva (2003a) definia blog na perspectiva de os usuários de internet buscarem um espaço para serem encontrados, serem identificados, enfim, se sentirem parte do novo mundo. Era uma definição quase metafórica ou análoga ao espaço material.

Entretanto, ao se buscar outros subsídios para a pesquisa, encontrou-se em Santos (1996), elaborações significativas para tentar consolidar o “o local digital”. O autor, ao discutir o global e o local, na perspectiva das técnicas, identifica que o global acaba por se constituir no espaço da racionalidade, enquanto o local seria o espaço da escassez. Assim, quanto mais racional e técnico a caracterização de um espaço, mais global e desterritorializado, quanto mais escasso em termos técnicos, mais localizado e territorializado o espaço se torna.

Nesse contexto, Santos (1996, p. 247) afirma que:

O fato de que a produção limitada de racionalidade é associada a uma produção ampla de escassez conduz os atores que estão fora do círculo da racionalidade hegemônica à descoberta de sua exclusão e à busca de formas alternativas de racionalidade, indispensáveis à sua sobrevivência. A racionalidade dominante e cega acaba por produzir os seus próprios limites.

O ciberespaço, enquanto técnica universal, é global e racional, um espaço da racionalidade. Entretanto, a blogsfera, ao fomentar “a intensidade das relações sociais”, ao reafirmar discursos de um espaço de escassez, seja pela limitação das técnicas disponíveis, seja pelo caráter dispensável da linguagem HTML, acaba por expressar no blog o local, entendendo-o como o local da interelação e não de escassez.

Admitindo-se de que o blog era o lugar digital, iniciou-se uma busca mais aprofundada através desta pesquisa. Assim, ao realizar a leitura de Claval (2002) e Giddens (2003), chegou-se ao locale digital. Acreditou-se ser mais adequado o termo locale, mantido em sua pronúncia original. Ele designa o que Giddens (1987 apud CLAVAL, 2002, p.31), define como “[...] unidade elementar de relações sociais, de cultura, de sentidos e de lugares compartilhados”, e por considerar que o locale tem “[...] limites mutantes e não se confunde nem com um ponto nem com uma área específica”, por isso locale e não lugares.

O último momento de consolidação da convicção da validade de constituir o blog como locale digital, vem da leitura de Batty (1997). Esse autor cria o conceito de ciberlugar, que para ele, são os espaços físicos onde se instalam os equipamentos necessários para viabilizar o ciberespaço. Acredita-se que este é um conceito equivocado, pois, com já se demonstrou no item anterior, o lugar pressupõem outro significado, para a Geografia, do que o mero suporte físico.

Então, por que o blog não é o ciberlugar? Porque, como se demontrou nesses quatro momentos, a definição do locale digital vem sendo constituída no decorrer do tempo, e se teve contato com a definição de ciberlugar de Batty (1997) posteriormente, entretanto, sua noção serviu para consolidar a definição proposta.

O locale digital poderia, então, ser definido como porção do ciberespaço, onde se privilegiam as relações sociais e culturais, na perspectiva de constituir espaços de racionalidade alternativa, sem limites definidos, e que encontra no blog, sua principal representação.

O sentido dado ao locale digital poderá ser percebido com maior intensidade ao se ir ao seu encontro, ao explorá-lo empiricamente. O locale digital funciona como espaço privilegiado na (re) construção das referências identitárias de pessoas que estão longe dos seus símbolos e memórias, que estão longe da sua antiga territorialidade.

Um comentário:

  1. Hmmm, pelo que eu entendi, a letra 'e' dpois de 'local' seria uma espécie de afixo cemantizando 'digital', logo, locale = lugar digital, assim como email = "carta digital". Bem bolado... qnt ao resto do texto naum vou nem me arriscar a comentar, muito bom mesmo! o/

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